SPMFR solicita audiência ao Sr. Ministro da Saúde
Março de 2023
A Sociedade Portuguesa de Medicina Física e de Reabilitação (SPMFR) solicitou uma uma audiência ao Sr. Ministro da Saúde, Dr. Manuel Pizarro, em conjunto com o Colégio da Medicina Física e de Reabilitação (MFR) da Ordem dos Médicos, a fim de puderem ser expostos alguns pontos tecnico-científicos que consideram de grande urgência, no seguimento da Pandemia COVID-19 e da necessidade premente da reestruturação assistencial em MFR/Reabilitação (preventiva, terapêutica e paliativa), organizativa e de educação ao nível dos Cuidados de Saúde de Medicina Física e de Reabilitação (MFR), como especialidade médica e como área da Saúde multiprofissional e multidisciplinar, atendendo às acrescidas necessidades de cuidados agudos, subagudos e de longa duração para um largo número de doentes, e em diferentes níveis e tipologias de cuidados, assim como às questões educativas, formativa, das Equipas de Reabilitação e das relações interprofissionais
Medicina Física e de Reabilitação
A Reabilitação tem sido definida como “um processo dinâmico pelo qual o indivíduo que sofreu incapacidade adquire o conhecimento e as competências técnicas necessárias para uma função física, psicológica e social optimizada”.
Objectivos
O objectivo global da Reabilitação reside em permitir aos indivíduos incapacitados conduzir a vida que desejam, no contexto de eventuais restrições inevitáveis impostas pelas incapacidades resultantes de doenças ou lesões. Na prática, esta situação é atingida por uma combinação de medidas para:
- Suplantar ou criar soluções para as suas incapacidades;
- Remover ou reduzir as barreiras à participação nos ambientes escolhidos pelo indivíduo;
- Suportar a sua reintegração na sociedade.
A Medicina Física e de Reabilitação tem como principal objectivo a optimização da participação social e da qualidade de vida. Esta optimização envolve geralmente uma ajuda ao indivíduo para que decida e atinja os níveis e padrão de autonomia e independência que deseja, incluindo a participação em actividades vocacionais, sociais e recreativas, consistentes com os seus direitos ou consistentes com os Direitos Humanos.
A Medicina Física e de Reabilitação é eficaz em cinco vertentes:
- Diagnóstico e tratamento da patologia subjacente;
- Redução do défice e/ou incapacidade;
- Prevenção e tratamento de complicações;
- Melhoria da funcionalidade e actividade;
- Facilitação da participação;
- Reconversão profissional.
Todas estas actividades têm em conta o contexto pessoal, cultural e ambiental do indivíduo.
Equipa de Reabilitação
A equipa pluriprofissional de reabilitação tem um valor que é superior à dos seus membros individualmente e constitui em conjunto com o doente e a família o motor do programa de tratamento.
A equipa trabalha com o indivíduo incapacitado e com a sua família, estabelecendo metas de tratamento apropriadas, realistas e atempadas, no contexto de um programa de Reabilitação global coordenado. Os objectivos são ajustados ao longo do tempo e em conformidade com a progressão.
O Fisiatra, após estabelecer o diagnóstico e baseando-se no nível de incapacidade do doente, elabora um plano terapêutico que poderá incluir múltiplos profissionais e múltiplas técnicas terapêuticas, tais como:
1) Intervenções médicas:
- Realização de exames complementares de diagnóstico como a prova de função respiratória, prova de esforço cardio-pulmonar, electromiografia, estudo urodinâmico, ecografia musculo-esquelética e outros.
- Administração de medicamentos destinados a restaurar ou melhorar as estruturas orgânicas e/ou a sua função, nomeadamente terapêutica da dor, (terapêutica) da inflamação, da bexiga e intestino neurogéneos, regulação do tónus muscular, melhoria da cognição e do comportamento, melhoria do desempenho físico, tratamento da depressão;
- Procedimentos práticos, incluindo injecções e outras técnicas de administração medicamentosa;
- Treino da bexiga e do intestino neurogéneos para controlo dos esfíncteres;
- Prescrição e supervisão de programas de readaptação ao esforço em doentes com patologia respiratória, da parede torácica, cardíaca e patologia neuromuscular.
- Prescrição de produtos de apoio, tais como auxiliares de marcha, próteses e ortóteses;
- Avaliação e revisão das intervenções;
- Prognóstico.
2) Tratamentos Físicos/Fisioterapia:
- Técnicas de manipulação terapêutica das articulações e cinesioterapia;
- Electroterapia, ultra-sons, ondas curtas, laser,ondas de choque, magnetoterapia;
- Aplicações de calor e frio;
- Hidroterapia e balneoterapia;
- Massoterapia (terapêutica com massagens) e linfoterapia (drenagem linfática manual).
3) Terapia ocupacional:
- Análise de actividades e ocupações quotidianas;
- Confecção e treino do uso de ortóteses;
- Ensinos acerca de técnicas necessárias para suplantar barreiras às actividades da vida quotidiana (por exemplo, adaptações ao domicilio);
- Treino do uso de produtos de apoio;
4) Terapia da fala e da linguagem;
5) Avaliação e tratamento da disfagia;
6) Intervenções neuropsicológicas;
7) Avaliações e intervenções psicológicas, incluindo aconselhamento;
8) Enfermagem de Reabilitação;
9) Terapia nutricional.
Áreas de intervenção
Os médicos de MFR deparam-se diariamente com uma série de problemas gerais que ocorrem em diversas situações clínicas. Estes poderão incluir:
- Dor geralmente do foro musculoesquelético ou por doença do sistema nervoso;
- Períodos prolongados em que o doente se encontra acamado e imobilizado, que descondicionam os doentes e provocam a perda de funcionalidade física e psicológica;
- Défices motores que produzem fraqueza muscular e perda de funcionalidade do indivíduo, incluindo perda da capacidade de marcha e de auto-cuidados;
- Espasticidade;
- Disfunções vesicais (bexiga) e intestinais;
- Úlceras de pressão (escaras), como sequelas da imobilização nos doentes com lesões neurológicas (AVC, traumatismo craneo-encefálico, lesão da medula espinhal), com diabetes, doentes descondicionados ou doentes idosos;
- Disfagia (alterações da deglutição), podendo conduzir a risco de pneumonia de aspiração e malnutrição;
- Dificuldades de comunicação;
- Disfunções sexuais e da sexualidade;
- Alterações emocionais, de comportamento e de personalidade;
- Alterações na dinâmica familiar, nas relações pessoais e de trabalho, causadas pela diminuição da funcionalidade e aumento do nível de dependência.